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ESR-MPEL09 - Atividade 3 Explorar, em pequenos grupos, dimensões da sociedade em rede"

DESCRIÇÃO                                                                                                                                                                                                                  
Participação em Fórum -  construção de uma reflexão colectiva acerca da dimensão política da sociedade em rede, explorando novas formas de poder e de cidadania.
 
O novo paradigma do exercício do poder e da cidadania

A reestruturação das empresas comerciais e as novas tecnologias de informação, embora encontrando-se na fonte das tendências globalizantes, não poderiam ter evoluído por si próprias em direcção a uma economia global em rede sem as políticas de desregulação, privatização e liberalização do comércio e investimento. Estas políticas foram decididas e operacionalizadas pelos governos em todo o mundo e pelas instituições económicas internacionais. Destas alterações tem vindo a emergir uma nova relação entre o poder e os cidadãos, sublinhando-se a importância da questão de que as decisões políticas têm protagonistas claramente identificados e que além de representarem governos e terem interesses políticos, possuem também "interesses pessoais num processo de globalização que se tornou numa fonte de riqueza potencial para as elites mundiais" (Castells, A sociedade em Rede, pág. 179).

O poder actual funciona à semelhança do sistema de redes empresariais, ou seja, as redes funcionam sob diferentes formas, contextos e culturas, funcionando de uma forma interligada, que se vão modificando consoante as necessidades. A rede do poder funciona em torno de um círculo, que por sua vez está interligado com outro mais amplo, estando este formado em torno de outro sistema de redes. O poder alia-se num determinado sistema, e este por sua vez poderá estar ligado a outros poderes, desde que no “momento” tal seja oportuno. Toda esta rede está apoiada nas novas ferramentas tecnológicas, que permitem uma actualização espácio-temporal quase imediata, permitindo assim uma rápida adaptação.

Castells também refere que o poder funciona como coordenador, dando apoio a sistemas regionais e locais, e também funciona como “mensageiro”, tendo por missão orientar o sistema no curso que se coadune com o seu “projecto global”.
Trata-se da organização em torno do processo - a hierarquia horizontal, assente em redes, "componentes fundamentais das novas organizações, capazes de se formar e se expandir por toda a economia global, pois confiam no poder da informação proporcionada pelo novo paradigma tecnológico." (Castells, A sociedade em Rede, pág. 220). Falamos, então, de redes sociais. É este o palco onde as pessoas interagem, hoje em dia.
Qual é, então, o papel das pessoas, dos actores sociais, das empresas, dos políticos no desenvolvimento dessas redes?
Segundo Castells, "...não têm que fazer nada para atingir ou desenvolver a sociedade em rede. Nós estamos na sociedade em rede, apesar de nem todos, nem todas as coisas estarem incluídas nas redes." (Castells, M. - A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política) Logo, todos os intervenientes deverão colaborar no sentido de "maximizar as hipóteses de cumprir os projectos individuais e colectivos expressos pelas necessidades sociais e pelos valores, em novas condições estruturais." (idem) Devendo o objectivo ser "caminhar para políticas-chave a fim de deliberadamente melhorarem o bem-estar humano num novo contexto histórico." (idem)
Este será o novo paradigma de cidadania.
As redes, estruturas abertas e dinâmicas, capazes de se expandirem de forma ilimitada, são instrumentos privilegiados de poder, capazes de modificarem significativamente os processos humanos estruturados por relações de processos de produção, experiência e poder.
A sociedade em rede não deixa de ser ainda uma sociedade capitalista onde o capital é global, estruturado em torno de uma rede de fluxos financeiros, e o trabalho é individualizado. Os processos de transformação ultrapassam a esfera do social e as relações técnicas de produção afectam a cultura e o poder de forma profunda. Assim, o capitalismo informacional, claramente hegemónico no mundo contemporâneo, serve-se das redes para moldar a capacidade de transformação das sociedades e, neste sentido, constitui uma forma de poder que cava o fosso entre países, acentuando um desenvolvimento desigual.
A evolução das tecnologias de informação e de comunicação leva ao crescimento exponencial das redes interactivas de computadores na Internet, criando novas formas de comunicar que intensificam os fluxos de informação, sem precedentes na história da humanidade.
Se antes o poder da comunicação estava concentrado nos media dos grandes grupos empresariais, que apenas disponibilizavam a informação definida pelos que controlavam a difusão, na sociedade em rede esse poder, digamos, transfere-se para cada um de nós, na medida em que podemos participar na difusão da informação e observar, em tempo real, as tendências do mundo inteiro, tendo apenas como factor de limitação a barreira linguística.
Este incremento no acesso à informação na sociedade em rede, ao saber imediato, tem impacto nas estruturas de poder estabelecidas.
O Estado e as instituições políticas tradicionais, tem vindo a perder o seu poder efectivo e muito da sua influência sobre a comunicação e o saber, com consequências profundas nas características, organização e objectivos dos actores e das instituições políticas, ao passo que o poder económico, cultural e jornalístico adquire enorme influência.

Neste fenómeno de globalização, o Estado passou a direccionar a sua atenção para aspectos económicos e de mercado descurando questões importantes a outros sectores sociais gerando uma descrença generalizada nas instituições políticas tradicionais.
Por sua vez, as pessoas passaram a ter acesso à informação de todo o mundo. O contacto com outros povos que vivem, pensam e sentem os problemas sociais, ambientais, económicos e políticos de forma diferente, tende a modificar os referenciais tradicionais das sociedades. A globalização ao anular as fronteiras geopolíticas, fomenta a pluralidade de pontos de vista, aumenta a possibilidade de contestação dos padrões, valores, opiniões vigentes pelos indivíduos ou grupos sociais.
O acesso livre e democrático a todas as formas de conhecimento e informação contribui para uma crescente reflexividade social que leva os indivíduos a uma maior consciência do que se passa à sua volta, favorecendo o aparecimento de movimentos sociais com uma estrutura decisória e descentralizada, que questionam os padrões instituídos e lutam pela cidadania de forma fluida e dinâmica. Novas formas de cidadania emergem caracterizadas pelo pluralismo cultural e ideológico com forte impacto democrático nas estruturas de poder estabelecidas.

O poder político já não se confina aos seus agentes tradicionais: parlamento, governo, partidos políticos, sindicatos, etc, e à sua estrutura corporativista e político-partidária que define as opções políticas, às quais os cidadãos se submetem. 

O enfraquecimento do poder político tradicional (governo e partidos) origina a mobilização da sociedade civil que se organiza em torno de ideias por ela defendidas, iniciando-se a nível local, mas podendo expandir-se globalmente.

Com a desvalorização da política e o esvaziamento do poder do Estado (Giddens, 2000), novas formas de se fazer política emergem traduzidas nos novos movimentos sociais, organizações não governamentais, organizações sociais de bairros e outras organizações comunitárias, designadas por micropolíticas, que tendem a actuar nas questões não tratadas pelo Estado, chamando a atenção do poder político tradicional.
Estes movimentos e organizações sociais têm um contributo fundamental na descentralização e renovação política na medida que provocam a revisão e reformulação de práticas tradicionais dentro dos partidos e instituições políticas.
As micropolíticas são fontes de pressão em especial no campo cultural e político e uma nova possibilidade de exercício da cidadania através da reivindicação de direitos e consciencialização dos deveres contribuindo para a democratização da sociedade.
Contudo, as micropolíticas isoladas, por si só não possuem a força necessária para a implementação dos seus objectivos. Torna-se necessária uma verdadeira interacção entre as forças políticas tradicionais e as micropolíticas para se poder falar em renovação política com toda a sociedade civil e política envolvida.


CONTRADIÇÕES


Se é verdade que os meios de informação, divulgação, comunicação e conhecimento abrem novas perspectivas, criam novas relações sociais e imprimem novos ritmos à cultura, também é verdade que, na sociedade em rede, se mantêm alguns traços característicos das sociedades anteriores, hierarquias de valores, desigualdades sociais e nacionais, privilégios profissionais e domínios corporativos resultantes das suas identidades históricas. Além disso, a sociedade em rede ao promover o acesso à informação e ao conhecimento gera também desigualdades, enraíza novos despotismos e destrói alguma diversidade e oculta a falta de pluralidade.
A sociedade em rede tem em si tantas potencialidades de progresso e de libertação como de despotismo; de autonomia individual como de condicionamento; de democraticidade como de desigualdade.
Efectivamente a liberdade de circulação da informação já contribui para a queda de regimes autoritários, o fim do comunismo, o desaparecimento do apartheid e a tomada de consciência sobre situações de miséria ou de opressão. Infelizmente continuam a persistir situações semelhantes apesar da globalização.
O fluxo livre de informações é tido como uma ameaça para determinados governos ou entidades religiosas com poderes na sociedade, que tem gasto enorme quantidade de recursos para limitar o tipo de informação que os seus cidadãos têm acesso.
Na sociedade da informação os países mais poderosos e ricos, os mais desenvolvidos científica e tecnologicamente ganham uma maior capacidade de se manterem em posições de superioridade. É fácil a um país rico ter acesso aos meios de comunicação mas muito difícil que esse país partilhe o conhecimento e os respectivos meios. Tanto do ponto de vista do produtor como do consumidor, a sociedade de informação é desigual.
Sendo a sociedade globalizada um espaço que coloca em contacto todos os tipos de diferença, ela amplia as possibilidades de confronto entre espaços dialogantes e fundamentalismos. Os choques de valores, opiniões, perspectivas e condutas de acção dos indivíduos ou de uma colectividade, necessitam de resolução e solução adequadas.
Importa, por isso, saber que perfil tem o cidadão que exerce ou pretende exercer a sua cidadania através da internet.

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