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ESR-MPEL09 - Atividade 3 Explorar, em pequenos grupos, dimensões da sociedade em rede"

DESCRIÇÃO                                                                                                                                                                                                                  
Participação em Fórum -  construção de uma reflexão colectiva acerca da dimensão política da sociedade em rede, explorando novas formas de poder e de cidadania.
 
CIBERCIDADÃO

Nas democracias ocidentais, a igualdade ao nível dos direitos políticos coexiste com uma hierarquia social estruturada em torno de diversos factores como: o género, a idade, as competências cognitivas, a etnia, entre outros.

Relativamente a diversos estudos realizados, tanto na Europa Ocidental, como nos EUA , acerca da explicação do modo como se distribuem os cidadãos por níveis e tipos de participação política, verifica-se uma relação entre desigualdades sociais e desigualdades de participação política, sendo também o sentido do dever de participar a competência política desigualmente distribuídos.

De acordo com Paquete de Oliveira e outros (2000), os utilizadores da Internet pertencem fundamentalmente ao sexo masculino (65% de homens e 22% de mulheres). Os cidadãos que utilizam as TIC na sua participação potítica também são maioritariamente do sexo masculino embora a diferença entre os sexos se mostre ligeiramente menos acentuada (63.5% de homens e 35% de mulheres), o que poderá ser explicado pelo facto de as elevadas posições profissionais e habilitações das cibercidadãs poderem em alguma medida atenuar as diferenças baseada no género.

Pese embora a igualdade formal entre homens e mulheres, o número crescente de mulheres com elevado nível de habilitações e com autonomia socioeconómica, pese embora ainda constituírem metade da população, continua a ser difícil o seu trânsito para o espaço político em contexto real. Com as TiC a história da cidadania política continua a ser escrita no masculino, o que permite, mais uma vez, frisar que novas tecnologias nunca resolveram velhos problemas sociais.

Registam-se também diferenças entre os cibercidadãos e os utilizadores da Internet na distribuição por grupo etário.
No estudo de Paquete de Oliveira (2000), o grupo etário que mais utiliza a Internet tem entre 20 e 29 anos, atingindo uma percentagem de 46%, registando-se nos seguintes grupos etários um decréscimo acentuado de utilizadores, o que vem de encontro aos resultados de estudos realizados em outros países.
Os cidadãos que participam politicamente em contexto digital estão mais dispersos pelos diversos grupos etários.
Mesmo que estejam mais concentrados no grupo etário que vai dos 18 aos 29 anos, numa percentagem de 38%, estão mais distribuídos pêlos outros grupos etários, concentrando-se 25% no grupo etário dos 30 aos 39 anos, 25% no grupo etário seguinte (40 a 49 anos) e 11% têm 50 anos ou mais.
Para tal situação poderá contribuir um dos seguintes factores (ou ambos) que importa em investigações posteriores aprofundar: o factor empenhamento político atenua o factor idade, factor este geralmente usado para explicar uma maior dificuldade no uso das TIC à medida que se caminha para grupos etários mais elevados, ou o facto de os jovens usarem as TIC, mas para fins apolíticos e, por esse facto, terão ficado menos "representados" nesta investigação, o que vem de encontro à tese enunciada por Dijk (2000b).

Em Portugal, os cidadãos que usam o ciberespaco para fins políticos concentram-se esmagadoramente no distrito de Lisboa, com uma percentagem de 54%, sendo pouco expressivas as utilizações nos restantes distritos, incluindo os do litoral, surgindo aqui não a recorrente diferença entre o litoral e o interior, mas entre o distrito de Lisboa e o resto do país. Tendo embora sido utilizada uma outra divisão administrativa, no estudo Ciberfaces, os dados são de novo sugestivos, embora, em certa medida, diversos.
Os utilizadores da Internet concentram-se na Região de Lisboa e Vale do Tejo com um valor de 57%, mas os seus utilizadores estão mais dispersos pelo litoral com 22% na Região Norte e 11% na região Centro.
Os utilizadores da Internet têm também um nível de habilitações eleva do, detendo 56% uma licenciatura, mas há uma menor concentração de indivíduos nos níveis mais elevados e, por consequência, uma maior distribuição dos utilizadores pêlos outros níveis de habilitações (Paquete de Oliveira e Outros, 2000)s. Os cibercidadãos têm um nível de habilitações ainda mais eleva do e mais concentrado nos escalões de topo de habilitações: tendo 78% pelo menos uma licenciatura, contribuindo para este valor 29% com o mestrado e 8% com o doutoramento; com apenas a escolaridade obrigatória há apenas 1% de cidadãos.
O domínio da língua inglesa é uma das competências cognitivas necessárias para o acesso à informação e para a participação dos cidadãos, enquanto produtores de informação e de opinião, podendo vir a constituir-se num dos novos eixos de diferenciação social na rede digital. Os cibercidadãos possuem também significativas competências linguísticas, em especial, no domínio da língua inglesa.
Todavia, notam-se já no seu seio factores que conduzirão a oportunidades desiguais de participação política digital, uma vez que, se é certo que 71% compreende bem o inglês e 25% razoavelmente, o que lhes permite um acesso vasto ao consumo de informação; só 40% escreve bem e outros 40% razoavelmente o Inglês, o que, à partida, evoca possibilidades mais reduzidas de participação, quer enquanto produtores de informação e de opinião, quer enquanto participantes mais activos em fóruns de debate transnacionais.
Os conhecimentos informáticos e de Internet são uma das dimensões cruciais das competências cognitivas exigíveis para a participação política digital e são; por outro lado exigíveis competências distintas em função da concepção de participação política que se defende e pratica.
As competências técnicas dos cibercidadãos são mais elevadas no que diz respeito às ferramentas de uso corrente como o processamento de texto, o correio electrónico, a pesquisa na WWW, áreas onde, pela ordem apresenta da, 69%, 65% e 60% têm muitos conhecimentos, sendo raros os cidadãos que têm conhecimentos escassos
À medida que aumenta o grau de "sofisticação" da ferramenta tecnológica mais reduzido é o número de cibercidadãos que têm muitos conhecimentos, encontrando-se as maiores frequências relativas noutros escalões como os dos conhecimentos razoáveis, escassos ou nenhuns.
Por outro, sendo os cibercidadãos correspondentes uma "elite" política, as variáveis socioeconómicas "tradicionais" (como por exemplo, as competências cognitivas e o estatuto socioeconómico, exceptuando-se a variável género), não explicam os diferentes tipos e formas de participação política. Importa, pois, referir outros factores explicativos nomeadamente: 

  • o interesse e a motivação para a participação política;

  • a cultura política;

  • tempo disponível;

  • as condições (não) criadas pelo sistema político para a participação;

  • a não atenção que o sistema político dá à opinião dos cidadãos.

Uma significativa maioria de cibercidadadãos considera que a participação cívica dos cidadãos portugueses é escassa e não parece ter ilusões em relação às possibilidades das TIC alterarem esta situação.
A sua experiência e a aprendizagem social faz com que tenham uma posição mais realista do que os utopistas tecnológicos, governos e multinacionais dos media, do entretenimento e de produção de hardware e software, que tentam convencer os cidadãos da possibilidade das TIC poderem renovar e/ou aumentar a participação política.
Pelo contrário, 78% consideram que as TIC são apenas mais uma ferramenta para a participação política, contra 18% que subscreve a tese da renovação.
Traçado o perfil do cibercidadão torna-se pertinente referir a diferença que existe entre os EUA, enquanto sociedade informacional, e Portugal, sociedade em transição para um modelo em rede.
Castells apontou um conjunto de factores-chave fundamentais para desenvolver a sociedade em rede:
- A nova sociedade já foi inventada e espalhada por indivíduos, mas sem a reformulação do estado burocrático tradicional, parceiro interactivo dos cidadãos, estes apenas encontrarão barreiras intransponíveis. O cibercidadão tem que estar envolvido na difusão e participação da e-formação, da e-segurança, da e-saúde. Esta participação exige um indivíduo autónomo, adaptável a novas circunstâncias, envolvido nas redes sociais. Ora o caso português e americano são claramente distintos, como distintos são também os sistemas educativos e as competências que ambos desenvolve;
- A globalização trouxe desafios condensados nesta antítese: quanto mais produtiva e desenvolvida é a sociedade, maior será o número de indivíduos que ficarão marginalizados desse mesmo desenvolvimento;
- O direito de propriedade intelectual a que o mundo empresarial está mais ligado restringe o acesso aos produtos mais inovadores e criativos, limitando o dinamismo/ de certos países. Portugal não está reconhecido como um país detentor desse conhecimento e produtos mais inovadores, ainda que algumas empresas portuguesas ( caso da Brisa) exportem tecnologia inovadora para os EUA.

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